27 abril, 2010

Pai coragem

O líder da oposição britânica e provável futuro primeiro-ministro, James Cameron, teve durante o dia de hoje de campanha eleitoral um duro teste, que dificilmente um político português era capaz de se submeter. Confrontando na rua por Jonathan Bartley, o pai de uma criança com problemas de espinha bífida, Cameron ouviu das boas e foi acusado de querer, no seu programa de governo, segregar do sistema educativo as crianças deficientes. O candidato conservador escutou atentamente os argumentos do indignado progenitor e argumentou que sendo também ele um pai de uma criança deficiente (Iván, falecido o ano passado) nada iria fazer para dificultar a vida a crianças com esta especificidade. Como está bom de ver, o debate decorreu durante longos minutos em plena rua e perante os ávidos disparos dos fotógrafos. Este é um dos happenings da campanha eleitoral britânica As próximas sondagens dirão se favoreceu ou prejudicou o candidato. Em Portugal seria impossível reeditar o momento. Fugir a sete pés às questões embaraçosas é o mandamento número 1 de qualquer política «tuga» com aspirações. O segundo é ordenar aos seguranças e aos assessores que «limpem» o terreno para não deixar vestígios para a imprensa.

A greve chegou ao Parlamento

Prossegue a maré de greves. Esta quarta-feira serão os funcionários da Assembleia da República a fazerem «gazeta» deliberada. Parece que os cavalheiros e as senhoritas querem um estatuto especial para a respectiva carreira, justificando o facto pela excelência das funções que desempenham. Esperada que é uma forte adesão à mobilização, está visto que amanhã em S. Bento terão de ser os senhores deputados a tirar as suas fotocópias e a atender os telefonemas. Também lhes faz bem, para quebrar a monotonia.

Portugal visto por um «fogareiro»

Os «fogareiros» são uns verdadeiros barómetros da nossa sociedade. Hoje apanhei um taxista que parecia ir figurar na categoria dos silenciosos. Afinal, quase a chegar ao destino, o homem explodiu. Disse mal da vida e que o patrão lhe passara há dias um cheque de uns míseros «seiscentes e tal euros». Acto contínuo, começou a desancar a deputada que viaja todas as semanas para Paris com o nosso dinheiro, exigiu um Parlamento com 100 deputados em vez dos 220 actuais e ainda se lembrou do projecto da cidade judiciária durante o consulado de Celeste Cardona na zona de Caxias, que foi para o lixo, depois de se ter gasto milhões em projectos, estando agora o Estado a pagar rendas mensais pelo aluguer do Campus da Justiça, no Parque das Nações. Depois de uns impropérios à classe dirigente, Sócrates incluído, e quase no fim da corrida, refreou os ânimos e disse, mea culpa, algo do género: «nós também somos culpados. Dizemos mal, mas votamos sempre nos mesmos». Paguei. Pedi factura, despedi-me e bati com a porta. À bruta, porque as portas dos taxis, não sei porquê, nunca fecham à primeira. Convenhamos que trocar impressões com um taxista é sempre um acto enriquecedor.

O que foi não volta a ser

Por muito que me tentem convencer, a Feira do Livro nunca mais será a mesma. Eventualmente ganhou-se em mercantilismo e imagem, o que se perdeu em tradição e carisma. O império Leya, com os seus stands (este ano serão 16 dos 236 previstos), um misto de passadeira vermelha e nave espacial, são bem mais propícios às quedas de incautos, do que para folhear obras de excelência. A última novidade hoje divulgada é um «happy hour», entre as 22h30 e as 23h30, de segunda a quinta-feira, com (alguns, sublinha-se, alguns) livros a 50 por cento de desconto, certamente para atrair noctívagos ao pouco recomendável espaço do Parque Eduardo VII. Para seguir nesta senda populista, ao melhor estilo de um bar de copas, sugere-se um «after hours» composto por um concurso de miss lombada molhada, para atrair ainda mais amantes da...leitura.