14 março, 2009

Um minuto de ruido que levanta mortos

Uma das milhentas coisas que me intrigam em Portugal é o facto de nos chamados «minutos de silêncio» se insistir em bater palmas. Uma minoria (um grupito de vândalos, diria) das insubordinadas massas começa por apupar timidamente com assobios, que rapidamente dão lugar a uma vigorosa salva de palmas do estádio inteiro. Cá para mim é o mesmo que estar a bater em tachos e panelas durante o velório de um defunto. Excêntrico, no mínimo.
Esta noite, nos jogos do campeonato, houve palmas para o Juiz Adriano Afonso, antigo dirigente do Benfica, falecido esta semana, mas em Alvalade uns quantos «lagartos» resistiram em alinhar no tributo. Os microfones da RTP deixaram escapar um sportinguista inconformado, apelidando de «vergonha» o acto de homenagear um «lampião» no estádio do eterno rival da Segunda Circular. Perante estes facciosismos bacocos e muito nossos, cada vez mais admiro o comportamento dos adeptos ingleses nos «minutos de silêncio» que são guardados, especialmente na Premier League. Como o nome indica, cumpre-se, em silêncio, o momento de pesar e não com ruidosas palmas. Chega a ser arrepiante. Nós por cá, continuamos a gostar muito de bagunça e chiqueiro.

A «ladra do tempo» faz 20 anos

O cavalheiro da foto chama-se Tim Berners-Lee e é um dos «culpados» por a esta hora da noite eu e milhões de pessoas estarem sentados numa cadeira, diante de um computador. Provavelmente, sem saber, ele é o responsável pela vaga de divórcios que grassa na sociedade. Foi o «pai» da World Wide Web, que cumpriu 20 anos esta sexta-feira, a «ladra do tempo», utilizando a expressão que Karl Popper criou para caracterizar a alienação social com a televisão. Berners-Lee disse hoje que a internet ainda está a dar os primeiros passos: «A net é hoje apenas uma ponta do iceberg. Chegarão as novas tecnologias muito mais poderosas que nos vão permitir coisas com que nunca sonhámos. O melhor está para vir». Curioso é o dado avançado pelo físico britânico, «cerca de 80 por cento da Humanidade não tem acesso à internet». Ainda um privilégio do primeiro e selecto mundo.