13 novembro, 2008

A cultura da sacanice

A cultura da delação, da ratoeira e da intriga está instalada em todo o universo laboral. Hoje tivemos mais um brilhante exemplo denunciado pelos jornais: Um funcionário superior da EPUL está a ser alvo de um processo disciplinar com intenção de despedimento depois de ter reenviado para os colegas um e-mail humorístico (que, por acaso, eu também mandei) com uma foto de campanha de Barack Obama com a mensagem «não vote em branco». O «crime» do indivíduo foi ter acrescentado à imagem o seguinte comentário: «Mas ainda se lixam que ainda o vão ter como presidente…». Segundo a nota de culpa do inquérito, o funcionário enviou uma mensagem de «conteúdo racista». Segundo relatam os jornais, os problemas deste indivíduo com a administração da empresa municipal não eram de agora e isto foi, oportunamente, a gota que fez transbordar o copo. Um pretexto. Uma sacanice. Começo a interiorizar que nos locais de trabalho há códigos de honra e integridade moral que só se preservam à lei do murro.

A frase do dia

«Franklin Roosvelt foi o Presidente da rádio, John Kennedy e Ronald Reagan os presidentes da televisão e Barack Obama é o primeiro Presidente da era da internet», Miguel Gaspar, «Público», 13 Novembro 2008

Uma desgraça nunca vem só

Como uma desgraça nunca vem só, depois de Santana emergir agora é a vez do seu grande ex-amigo, Carmona Rodrigues, anunciar que tem «bastantes apoiantes» para uma eventual recandidatura à Câmara de Lisboa. Pela amostra das últimas autárquicas, adivinha-se o naipe das «tropas» que o acompanham: o cantor Toy e alguns dos 52 fadistas que cantam nas casas de fado da capital. Só desejamos que não se estampe, como aconteceu nesta descida de bicla em Alfama.

Queridos inimigos


No dia em que se soube que o dr. Balsemão anda a mandar e-mails para os seus colaboradores, oferecendo-lhes uma indemnização acima do estipulado por lei para os ver desamparar a loja, visando estancar o descalabro financeiro do universo SIC, a ZON (antiga TV Cabo), confirmou que Emídio Rangel foi contratado como «consultor externo» para o projecto de candidatura da empresa ao quinto canal. Tinha piada, que depois de ter saído a mal de Carnaxide, Rangel, o eterno sobrevivente, regressasse em grande ao espectro televisivo. Só não sabemos como é que se vai desenvencilhar de um pequeno escolho: o director de comunicação da ZON chama-se Paulo Camacho. Sim, esse mesmo, o ex-jornalista da SIC que costuma cruzar-se com Rangel pela barra dos tribunais em diversos processos de difamação. Ou seja, eles adoram-se!

Um case study para o jornalismo português

Confesso que fiquei particularmente incomodado com o teor do artigo assinado na revista «Visão» por Rosa Ruela. «O homem a quem tudo acontece», é o título da peça que, aparentemente, procura traçar um perfil de Paulo Teixeira Pinto (PTP), o ex-presidente do BCP. O artigo informa no lead que 2008 é o ano horrível para PTP - saiu do maior banco privado português, divorciou-se de Paula Teixeira da Cruz e admitiu ter uma doença neurológica. The last but not the least, o filho Paulo Guilherme faleceu há duas semanas, de causas indeterminadas. Mas ao ler a prosa, subitamente, pensamos estar com um pasquim da pior estirpe nas mãos. Primeiro, uma passagem sobre o comportamento de PTP no velório do filho: «(...)Alheado das gentes da política e da alta finança que ali se misturam com familiares e amigos, não se coibia de fazer festas na testa de Guilherme, de lhe compor as mãos no caixão (...)». Sobre a doença degenerativa, alegadamente Parkinson, «segundo um médico neurologista, que pediu para não ser identificado»(sic), a jornalista descreve com minúcia as dificuldades de PTP em lidar com a enfermidade, em actos tão simples como «cortar um bife», «acender uma cigarrilha» ou «vestir o sobretudo». Acerca do divórcio do casal, outra fonte sem rosto diz que era um cenário que se desenhava, «face à diferença abissal de feitios».
Mas é a conclusão do artigo que ultrapassa todas as marcas. Citando, outra vez, um amigo anónimo de PTP, lê-se: «Não sei se o Altíssimo quer castigá-lo por ter saído da Opus Dei». Palavras para quê? Uma peça jornalística (???), a cheirar muito a encomenda - ainda por cima mórbida - que julgava poder encontrar nalgumas publicações, devidamente identificadas, mas nunca na «Visão». Não sei se a Entidade Reguladora da Comunicação Social tem alguma coisa a dizer...

Carnaval antecipado

Nos últimos dias não têm faltado ovos para fazer omoletas no Ministério da 5 de Outubro. Depois da ministra, Maria Lurdes Rodrigues, ter sido visada pela pontaria dos alunos em Fafe, hoje foi a vez dos dois secretários de Estado, Walter Lemos e Jorge Pedreira, verem as suas viaturas conspurcadas pelos arremessos dos alunos da secundária D. Dinis, em Lisboa. O protesto das ruas, como o que vimos no sábado, é legítimo. A modalidade do «lançamento do ovo ao político» é condenável e revela até que grau pode ir o exercício de manipular criancinhas que não têm a mais pequena ideia do que se está a discutir. O Carnaval é só em Fevereiro!

O reverso da moeda

Noite negra para o Chelsea de Scolari. Os «blue» foram eliminados em casa pelo Burnley, de uma divisão inferior, na Taça da Liga e Didier Drogba, depois de apontar o golo dos da casa, apanhou uma moeda perdida no relvado e arremessou-a na direcção dos adeptos da equipa forasteira. O árbitro admoestou-o com o cartão amarelo. A polícia já abriu um inquérito sobre o caso.