14 junho, 2008

Do milagre à tragédia grega

«Em 2004, um milagre aconteceu. Um milagre repete-se talvez a cada 30 anos, não mais. Por isso é que se chama um milagre», Otto Renhagel, seleccionador grego, depois de ver a sua selecção eliminada do Euro 2008 com 2 derrotas na primeira fase, quatro anos depois de ter levado a Grécia ao título, com uma vitória sobre o anfitrião Portugal na final (1-0).

Arrogância telegráfica

Bombardeado por jornalistas portugueses e ingleses na conferência de imprensa prévia ao jogo da Suiça, Scolari voltou a dar o seu show de arrogância. Em respostas telegráficas, o técnico da formação das "quinas" disse "não" quando questionado se o rendimento da equipa poderia ser afectado, "sim" quando lhe perguntaram se o 'timing' da notícia foi bom e "não" a uma possível falta de respeito pelos adeptos ao assumir a mudança nesta altura. Ao que parece as duas únicas palavras inglesas que sabe dizer são «yes» e «sorry». Não desejamos mal a ninguém, mas a continuar neste registo e caso os resultados não acompanhem Scolari na sua aventura britânica, o brasileiro pode contar com a sua viagem de regresso garantida.

...E o burro sou eu?

Rui Santos é um jornalista sem medo. Talvez o único em Portugal, na área do futebol. É um dos «profetas da desgraça» e «invejosos» que quer o mal da selecção, segundo as palavras de Scolari e dos porta-vozes Ricardo e Nuno Gomes, mas, por acaso, até diz muitas verdades. Aqui vai mais uma publicada no «Record» de sexta-feira e que transcrevemos na íntegra.

«1 - ... E se um dia o Chelsea me convidasse, quem me apoiaria? Naturalmente, a minha família de sempre. Os meus amigos de sempre. O Murtosa de sempre. E, também, os meus empresários de sempre e a minha Federação de sempre. Por 30 milhões de euros, à razão de 7,5 milhões ao ano, quem me apoiaria? O meu banco de sempre e a D. Olga de sempre. Cada vez que os jornalistas ingleses lhe querem fazer uma pergunta na língua de Shakespeare, Big Phil tenta tirar um coelho da cartola como uma gargalhada respondona e a coisa passa. Passa? A ver vamos. Porque a maior “arma” que Scolari exibiu, desde que chegou a Portugal em 2002, foi o seu poder de comunicação e, mais do que isso, a capacidade de fazer crer que esta Pátria abandonada precisava de um líder. Com amor à camisola. Que cantasse, sentidamente, o hino nacional, pelo menos de uma forma tão sentida como o canta a Dulce Pontes. Não vêem todos aqueles que se acham incapazes de amar, de se dedicarem à Pátria e beijar a bandeira das quinas, a identidade da alma? As quinas não são patrocinadas, é tudo afecto, é tudo espontâneo, é tudo coração e por que não os empresários entrarem na blindada Selecção, não apenas para tratar dos assuntos “impossíveis” do Cristiano Ronaldo mas também do indefectível seleccionador, sangue do nosso sangue, cálice do nosso cálice, debaixo do nariz dos súbditos de Sua Majestade?
2 - Em Inglaterra não será assim – e isso é uma profunda desvantagem. Estão a ver Scolari a “enrolar” os ingleses e a cantar “God Save the Queen” com fervor britânico? Yes, yes, yes!
3 - A data concertada para anunciar o vínculo de Scolari ao Chelsea, ao cabo de duas jornadas do Euro, mais do que um escândalo, é uma provocação. Com efeitos reduzidos presumivelmente a zero, porque alguns dos atletas da Selecção serão seus pupilos em Stamford Bridge; porque Scolari adoptou uma postura extremamente liberal e compreensiva em relação aos problemas profissionais dos jogadores (ainda ontem Deco foi autorizado a deslocar-se a Barcelona para tratar de “assuntos pessoais”!!!); e porque Gilberto Madaíl, apesar de tudo, chora. Quer dizer: Scolari coloca os interesses da Selecção em causa e a Federação, em vez de tomar uma decisão, capitula. Como sempre. A Federação trata agora, curiosamente, dos interesses do Chelsea.... E o burro sou eu?!* Como diriam no “Pátio das Cantigas”, tem aqui uma “casa às suas ordens” (se por mero acaso não se entender com o russo do Abramovich)»